sábado, 8 de março de 2014

Boaventura de Sousa Santos lança "Se Deus fosse um activista dos direitos humanos"*

Por Milton Machel








O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos lançou na última quinta-feira, 6 de Março, em Maputo o livro “Se Deus Fosse Um Activista dos Direitos Humanos”, no auditório do Museu da História Natural, em evento promovido pelo Centro de Estudos Sociais Aquino de Bragança (CESAB).

A obra foi co-apresentada pela académica e activista dos direitos humanos das mulheres, Isabel Casimiro, e pela Presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabota, e contou ainda com duas leituras críticas por parte do académico e director executivo do CESAB, Francisco Noa, e do Presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, o advogado e activista Custódio Duma.

Em breve leitura crítica á obra, Francisco Noa considerou que Boaventura de Sousa Santos (BSS) faz uma inequívoca “demonstração do exercício da liberdade do pensamento”, depois verbalizada no exercício da liberdade de expressão. Para quem a leitura desta obra é desafiante e perturbadora, Noa afirmou ainda que Moçambique denota “um défice real de liberdade de pensamento, porque só pensa efectivamente que pensa livremente e pensa criticamente”, o que se não verifica na sociedade Moçambicana.

Alice Mabota, Isabel Casimiro e Custódio Duma apresentaram e avaliaram o livro numa óptica contextualizada aos actuais desafios dos direitos humanos em Moçambique. Isabel Casimiro pontuou a questão da desigualdade de direitos entre homens e mulheres, que poderá ser acentuada caso se aprove a actual proposta de um novo Código Penal pela Assembleia da República, a qual tem como uma das disposições a possibilidade de a violação sexual não ser penalizada se o violador se casar com a sua vítima.

A Presidente da Liga dos Direitos Humanos se referiu ás torturas e execuções sumárias perpetradas pelas autoridades policiais, em clara violação dos direitos humanos e a arrepio da lei, enquanto Custódio Duma preferiu ler a obra de BSS identificando nela críticas globais que se podem localizar em Moçambique nos vícios do activismo pelos direitos humanos e na contradição entre discursos e leis que defendem os direitos humanos e as práticas quotidianas de atentados de toda sorte á dignidade da vida humana, perpetrados pelas autoridades e por uns cidadãos contra os outros.

Em “Se Deus Fosse Um Activista dos Direitos Humanos” BSS considera que “Ele ou Ela estaria em busca de uma concepção contra-hegemónica dos direitos humanos e de uma prática coerente com ela.” Nesta obra, o sociólogo centra-se nas dificuldades e contradições enfrentadas pelos direitos humanos quando confrontados com movimentos que reivindicam presença da religião na esfera pública.

Sousa Santos propõe uma aliança entre as diferentes teologias da libertação existentes em diferentes religiões e as concepções contra-hegemónicas de direitos humanos. Desafio que exige tradução intercultural.
Publicado sob chancela das Edições Almedina, o livro teve como preço de capa 700 meticais no acto de lançamento.

* Programa Para Fortalecimento da Mídia





Sem comentários: