Celebramos mais
um 8 de Março – Dia Internacional da Mulher. Esta data tem vindo a ganhar
visibilidade que outrora não tinha, provavelmente por se dedicar maior
relevância à data nacional das mulheres - o 7 de Abril. As datas que celebram
as mulheres têm sido motivo para as parabenizar, oferecer-lhes
flores e enaltecer o seu papel como companheira do “homem engajado”.
Contudo, o 8 de
Março não se resume a uma data festiva, esta data traz consigo lendas, mas
também histórias reais tendo ambas em comum o facto de referirem-se às lutas
das mulheres, à sua jornada de busca por igualdade, liberdade e dignidade.
Mudam-se os tempos, mudam-se os temas, mas os objectivos e as lutas permanecem
vivos nos nossos dias. A luta é pela autonomia de ser sujeito de suas vidas,
não apenas companheira!
As mulheres
ainda estão invisíveis no campo político e económico. A representatividade das
mulheres nos órgãos locais permanece muito baixa, contudo, ao nível central,
mesmo que não se tenha alcançado a paridade, Moçambique tem índices de mulheres
acima da média da região. Mas será que usamos o nosso poder em defesa dos
interesses das mulheres ou caímos nas manipulações de quem de facto tem a faca
e o queijo na mão? Porquê é que estes índices não se reflectem na vida das
mulheres comuns? Porquê que não usamos o nosso poder para barrar a não
penalização dos perpetradores de crimes sexuais (desde que o agressor se case
com a vítima) como avança a proposta de revisão do Código Penal? Porquê as
mulheres são apartadas dos processos de construção e manutenção da paz no país,
quando elas são as maiores vítimas? Porque as políticas e leis na área da saúde
continuam a não considerar os direitos humanos das mulheres? Porquê as mulheres
continuam a viver a violência doméstica e a expropriação da terra? Por que é que
as mães trabalhadoras continuam a gozar apenas 60 dias de licença de parto
quando a Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu um mínimo de 90
dias, sendo Moçambique membro desta organização? Porque é que ao atravessar as
fronteiras para buscar o seu sustento e para alimentar as grandes cidades as
mulheres são violentadas física e economicamente? Por qual razão o trabalho
doméstico, a maternidade e todo o trabalho do cuidado, que tanto sustenta e
mantém as famílias e a sociedade não é valorizado? Por que motivo as mulheres
continuam sendo as que mais dão de si aos partidos políticos, mas continuam
sendo preteridas dos lugares chave e, quando lá colocadas têm sempre um vice ou
adjunto homem? Por qual razão quando falamos de mulheres na política, sempre
questionamos a sua competência
sem
sequer dar oportunidade – será mesmo por
razões de competência que elas são barradas?
Nós, Mulheres
Moçambicanas consideramos que a participação política das mulheres é um passo
fundamental para a reformulação das condições económicas, políticas e sociais para
permitir oportunidades iguais para mulheres e homens.
Reafirmamos o
nosso empenho em actuar para mudar o mundo capitalista e patriarcal, que dá
prioridade aos interesses do mercado acima dos direitos das pessoas. Como
mulheres, demandamos a observância de todos os nossos direitos, e o pleno gozo
do nosso direito à uma vida digna e sem violência, assim como o respeito de
nossos direitos sexuais e reprodutivos.
Como mulheres
queremos reafirmar que sim, nós somos capazes de participar nos processos de discussão
sobre a vida do país a vários níveis, tal como as mulheres participaram com
empenho na luta de liberação nacional.
Queremos ocupar
os meios de comunicação social, com a nossa autonomia de pensamento e crítica,
mas também de apresentar alternativas sobre os assuntos da vida social,
política e económica do país. Sim, somos capazes e queremos trabalhar a nossa
terra, fazer a nossa agricultura de forma autónoma, valorizando todo o saber
acumulado de tantas gerações. Queremos sim, produzir comida para nossas
famílias, para nosso celeiro e para nossas irmãs e irmãos que não o podem fazer
em nossas comunidades. Queremos ter controlo sobre nossas sementes.
Apelamos todas
as mulheres e todos os homens que lutam pela paz e pela justiça a participarem
da implementação imediata de medidas para erradicar todas as formas de
violência físicas, sexuais, económicas, ecológicas, verbais, psicológicas
praticadas especialmente contra as mulheres. Queremos viver num MUNDO ONDE
HAJA PAZ PARA TODAS E TODOS.
Estamos num momento
eleitoral, e apelamos que as mulheres estejam envolvidas em número e com poder
de influências nas agendas políticas conforme o compromisso assumido pelo
Estado Moçambicano no protocolo de Género da SADC.
É necessário
eliminar o mais rapidamente possível as desigualdades, que sejam sociais,
culturais, étnicas, de classe ou de género. Lutaremos até chegarmos a uma
sociedade que valorize a riqueza e os direitos das mulheres.
POR ISTO TUDO
PERMANECEREMOS NA COMBATIVIDADE FEMINISTA CONTRA O SISTEMA PATRIARCAL QUE
OPRIME, USA AS MULHERES PARA SE PERPETUAR. SEGUIREMOS EM MARCHA ATÉ QUE TODAS
SEJAMOS LIVRES!
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