sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Jornalismo internacional: candidato a pior?



Por Josué Bila

Em 2008 critiquei, feroz e impiedosamente, a indústria jornalística moçambicana, em virtude de sua contínua resistência em permanecer no grande conglomerado de jornalismo provinciano. Nos últimos oito meses, em lendo as páginas internacionais dos jornais moçambicanos, vejo notícias que são um verdadeiro e vulgar exemplo de copy and past das notícias internacionais. A operação copy and past acontece, óbvio,
sem questionamento da relevância política e social de uma notícia estrangeira para Moçambique. Por exemplo, qual é o interesse noticioso (e de gasto de irrisórias páginas) sobre o câncer do Presidente Venezuelano Hugo Chávez e da morte do presidente norte-coreano para Moçambique?

O quadro do nosso jornalismo internacional
Da observação às páginas internacionais destaco que os jornalistas/páginas internacionais moçambicanos sofrem deste quadro: anorexia jornalístico-intelectual, desconhecimento de questões geo-estratégicas, visão penumbrada de desenvolvimento de Moçambique, fragmentos informacionais, frouxidão ética e jornalismo desconhecedor do seu destino em contraste com a robustez jornalístico-intelectual, acuidade na ponderação sobre problemas da humanidade moçambicana e internacional e sistematização informacional étic0-jornalística. Estas últimas qualidades, certamente, estão ao serviço de desenvolvimento de Moçambique – e são confirmadas, num ponto de vista hermenêutico, pela nossa Lei de imprensa.

Perguntas
A doença de ex-jogador do Benfica, Eusébio da Silva, não tivesse sido supervisibilizada pela imprensa portuguesa ou outra, teria encontrado tanto eco na imprensa moçambicana? A morte do presidente norte-coreano, se não tivesse tido a supervisibilização da imprensa internacional, será que a imprensa moçambicana a teria publicada? Por que a imprensa local não laborou, individualmente, sobre suas conseqüentes implicações geopolíticas e económicas? Por que o interesse internacional de um assunto em Moçambique, deve passar, primeiro, pelo crivo das agências de notícia internacional? Será que a pobreza das páginas internacionais deve-se somente – repito somente - ao facto de a imprensa e os jornalistas moçambicanos viverem enclausurados na pobreza financeira e económica? Na balança da nossa masmorra jornalística, por que não admitir que a anorexia jornalístico-intelectual, a frouxidão ética e o jornalismo desconhecedor do seu destino pesam muito mais do que a robustez e a eficiência jornalísticas?

Intencionalmente, exprimi oito perguntas que não as responderei completamente, ao longo do texto. Apenas colocarei alguns fragmentos. Aliás, algumas dessas perguntas são retóricas, na medida em que possuem, com um mínimo de rigor e vigor, respostas. Por isso, elas funcionam como um advogado que vem em minha defesa contra todos aqueles que poderão tribunalizar-me por não respondê-las, detalhadamente.

Porém, penso que aquelas perguntas são relevantes para a avaliação das páginas internacionais da imprensa moçambicana, que, não raras vezes, só são melhores quando comparadas consigo mesmas e com tudo que tem de pior na imprensa, aqui e acolá. Isto parece ironia de quem está desgastado. Até pode ser. Mas, não deixa de ser um facto característico: nossas páginas internacionais são paupérrimas e não vejo interesse da indústria jornalística e dos nossos colegas de profissão em melhorá-las. Apenas falácias de melhorar e autocomiseração de por que o nosso jornalismo internacional não catapulta da bizarrice profissional na qual se encontra para um glamour ético-jornalístico e intelectual, transmissor de informação e educação.

Posto isto, creio que as páginas internacionais, na imprensa moçambicana, parecem sofrer de obturação histórica e exaustão sócio-profissional, antes de atingir o caminho de maturidade jornalístico-intelectual e o ápice de qualidade noticiosa.

Institucionalização moral de promoção da mediocridade
Contra todos os gostos de ética jornalística, depois que a imprensa moçambicana soube que é o quarto poder, deixou-se atribuir pelo embalo da altivez sócio-profissional. Infelizmente, a altivez sócio-profissional é contrária aos vôos catapultantes de saber pensar de prisma cosmopolita; antes o processo de busca, selecção e consequente publicação de informações jornalísticas obedece muito mais a intuições ébrias de reprodução provinciana de agendas da mídia internacional do que necessariamente produção sóbria e inteligente de notícias internacionais, com interesses genuinamente nacionais.

Seria importante que os editores das páginas internacionais estudassem sobre jornalismo internacional, políticas e relações internacionais, ciências sociais, teologia e filosofia; ao mesmo tempo, fizessem intercâmbios com jornais e editores internacionais de países vários, com experiência notável; ou que as empresas jornalísticas, particularmente aquelas que têm alguma capacidade financeira e patrimonial razoável (Notícias, Televisão de Moçambique, Soico TV, Rádio Moçambique e quiçá o SAVANA) fizessem concursos públicos para admissão de jornalistas competentes para páginas internacionais. Como farão isso, com a institucionalização moral de promoção da mediocridade? Quando sairemos do jornalismo provinciano para o jornalismo cosmopolita? Será que fazemos conta de que estamos na caverna do grande conglomerado de idiotismo jornalístico?

Não há pior coisa que profissionais de jornalismo (internacional) exercitem o seu labor diário, sem questionarem sobre a sua qualidade jornalística e intelectual e nem tão pouco desejarem aprender de outros profissionais e agências que tem barba branca no que fazem. Por falar em intercâmbios ou viagens para o exterior, lembro que Pitágoras, matemático e físico grego, sempre que viajasse para o Egipto, regressava com mais conhecimentos sobre a geometria. A filosofia dualista do filósofo Platão inspirou-se, diz um escritor, no Egipto. Agora, pergunto: que trazem os jornalistas moçambicanos de páginas internacionais, quando viajam para o exterior? Pelo que sei, trazem mais gravatas, chinelos, cuecas e todo glamour material e nenhum livro para leitura e absorção cultural e intelectual. Sem comentários. Então, apenas lamentar? De jeito nenhum. Em nenhum momento da história, jornalistas pré-intelectuais foram necessários, pois apenas prestam um desserviço à imprensa e ao público e atrapalham o avanço da indústria jornalística. (Que o diga a imprensa moçambicana, enclausurada nas encruzilhadas medíocres das galáxias, por isso nos corredores do jornalismo moçambicano já encontramos os chamados jornalistas galáticos. No dia em que despertamos da nossa hibernação jornalística duvido que os galáticos preencham os requisitos do jornalismo ético-intelectual e robusto). Certamente, o jornalismo internacional moçambicano precisa sair das mazelas provincianas e perspectivas infanto-intelectuais para conhecimento arrojado, responsável e cosmopolita.

Candidato a pior?
O óbvio é conhecido... Infelizmente, a indústria jornalística e os editores das páginas internacionais insistem no pior, porque se comparam consigo mesmos e com tudo que tem de pior. O nosso jornalismo internacional é candidato a pior ou não?

4 comentários:

Domingos Chapungo disse...

Seria bom se fizessem concursos para admissão, mais nem a TVM que tem fundos públicos não faz para jornalistas generalistas, imagine contratar para páginas internacionais...

bantulândia disse...

Chapungo! Realmente, é bem lógica a tua colocacao... Já debati sobre isso aqui http://bantulandia.blogspot.com.br/2009/10/do-jornalismo-provinciano-e-faz-tudo-ao.html

bantulândia disse...

Chapungo! Realmente, é bem lógica a tua colocacao... Já debati sobre isso aqui http://bantulandia.blogspot.com.br/2009/10/do-jornalismo-provinciano-e-faz-tudo-ao.html

Ruben de Pinho disse...

Concordo plenamente Josué mas nao é so em Moçambique que acontece o tal copy/paste de noticias nomeadamente dou o exemplo dos Media de Portugal que alem de entupirem o horario "nobre" com noticias sem relevancia para a população decidem adotar programas que "ocupam" o consciente das pessoas (nomeadamente reality shows) em vez de passaram mais programas educativos que cada vez sao mais escassos