- Ex-general Theoneste Bagosora é culpado pela morte de 800 mil pessoas no conflito no país africano em 1994
ARUSHA, Tanzânia - O Tribunal Penal Internacional das Nações Unidas para Ruanda (TPIR) condenou à prisão perpétua nesta quinta-feira, 18, Theoneste Bagosora, ex-coronel do Exército e mentor do genocídio que deixou mais de
800 mil mortos no país africano. O ex-militar foi considerado culpado de crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Ruanda enfrentou em cerca de 100 dias o massacre de mais de 800 mil pessoas, na maioria integrantes da minoria tutsi e hutus moderados, assassinados por milícias hutus depois que o avião do presidente do país misteriosamente foi derrubado em Kigali ao retornar de uma negociação de paz com rebeldes. A matança figura, ao lado do holocausto dos judeus, como uma das piores atrocidades do século 20.
No indiciamento, a TCIR disse que, antes do assassinatos, Bagosora abandonou as negociações de paz na Tanzânia, dizendo que voltaria a Ruanda para "preparar o apocalipse". Os promotores disseram que Bagosora, então chefe de gabinete do Ministério da Defesa, assumiu o controle dos assuntos militares e políticos de Ruanda quando o avião do presidente Juvenal Habyariamana foi derrubado. Depois do genocídio, Bagosora partiu para o exílio em Camarões. Ele foi preso lá em 1996. Seu julgamento começou em 2002 e prosseguiu até meados de 2007. Bagosora sofreu 11 acusações de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Também na quinta-feira, a corte da ONU sentenciou os ex-oficiais Anatole Nsengiyumva e Aloys Ntabakuze à prisão perpétua. O cunhado do ex-presidente Habyarimana Protais Zigiranyirazo, conhecido como "Monsieur Z", foi condenado a 20 anos de prisão também pelos crimes de genocídio, extermínio e crime contra a humanidades. Zigiranyirazo foi acusado de ser membro da Akazu, pequena mas poderosa elite formada por familiares Hutus que planejavam exterminar tutsis.
Ruanda sempre teve sua população dividida entre membros da etnia hutu, que constituem 85% da população, e tutsi, que tradicionalmente são a elite do país. Em 1994, o governo formado por hutus estava tentando desesperadamente conter o avanço de rebeldes de etnia tutsi. Em abril, um avião que levava o presidente, um hutu, foi derrubado. Em questão de horas, alguns membros do governo, incluindo o próprio primeiro-ministro, organizaram milícias para percorrer o país e, sistematicamente, assassinar tutsis.
Segundo a BBC, bloqueios foram criados nas estradas e qualquer pessoa que parasse neles e mostrasse um documento que o identificasse como tutsi era morto - às vezes, a tiros, mas mais freqüentemente com golpes de facão. Vizinhos mataram seus vizinhos e até hutus moderados que se recusaram a participar do massacre foram assassinados. Mesmo freiras e sacerdotes foram considerados culpados de participar do genocídio. O mundo fez pouco para impedir o massacre, mas depois as Nações Unidas criaram um tribunal internacional na cidade de Arusha, na Tanzânia, para julgar os líderes das milícias.
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